terça-feira, 6 de outubro de 2009

segredo


tirei poemas
do fundo do poço,
da tristeza
e da alegria.

tirei versos da angústia,
do fim do mundo
e do coração.

tirei-os do estômago,
das entranhas
e do sangue das mãos.

tirei de risadas
e muitos tirei de garrafas.
tirei de longe
e tirei de perto
e muitos tirei de dentro
tendo que primeiro arrancá-los.

tirei muitos
da fumaça,
tirei do céu e também
das nuvens.

muitos tirei da loucura
e alguns poucos
do sossego.
tirei de mulheres,
de sonhos e pesadelos.

tirei de amores
que escorreram entre
os dedos.

tirei uns tantos
da total desesperança,
da falta de confiança
ou do choro da criança.

tirei com rima
e tirei sem
e isso pouco importa.

tirei um primeiro
mas o último
ainda não veio.

tirei poemas
de tudo que pude tirar
e também do que não poderia.

tirei uns versos
da total desilusão,
da amarga conclusão
da completa confusão.

do barulho,
da sujeira,
da floresta e da clareira.

do sol forte,
ofuscando o olhar
e do teu jeito de andar.

tirei canções
que nunca serão cantadas
e isso pouco importa.

tirei poemas
de toda a minha vida
e toda a minha vida
tirei da poesia.

dos alegres versos tristes
da triste alegria
de existir.

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