sábado, 13 de fevereiro de 2010

Remoendo o passado
(extratos de dias que já se foram.)





Não entro na questão de ser ou não ser arte. Pra mim, tal questão simplesmente deixou de
existir, por hora, por motivo simples; tenho me perguntado muito sobre o significado de tal
idéia, tentando apreende-la além do conceito, da palavra; creio que nesse caso mais vale
confiar nos sentidos, do sentimento decorrido da contemplação pura daquilo que se pretende
ser e que na verdade somente em alguns casos o é de fato. Tal fenômeno exprime um momento
que é na verdade único: Deus falando através do homem. Que outra explicação há? Quando se
observa, em uma contemplação de fato pura e completa evidentemente, uma tela, digamos, de
Monet por exemplo, como aquela com as duas meninas na canoa sob um rio negro, belíssima tela,
que se percebe em realidade alí? Como aquilo, tudo aquilo que da tela emana até o observador
e consequentemente vice-e-versa, poderia ser meramente produto das mãos de determinado
indivíduo? É ISTO TAMBÉM, sem dúvida nenhuma, sob um foco; mas perceba, há algo muito além disso alí, naquela tela, naquele determinado indivíduo ao menos naquele determinado instante: há Deus, há Deus seja lá o que se queira entender por tal idéia e palavra. Assim é Cezanne, Van Gohg, Renoir, Beethoven, Bach, Mozart e nem entrarei literatura adentro por motivos pessoais de envolvimento. Indivíduos através dos quais o divino da existência se pronuncia, se anuncia, se mostra real, a real realidade; arte. O grande poema, a grande sinfônia, a obra-prima em tinta, na tela. É claro que tudo isso são expressões, e como tais passam por um
saber expressar tal fenômeno divino. Pois, de uma forma ou de outra, tenho convicção de que na verdade esse mesmo divino é sentido, ao menos por um instante fugaz, em todo e qualquer indivíduo, por tudo e toda coisa existente neste mundo que, afinal, é o mundo de Deus. Todavia cabe a poucos, devido à aptidões, circunstâncias, acaso, destino ou o quê? Ou é concebido a poucos o dom de, de fato, ouvir a voz de Deus e expressá-la em beleza, mesmo quando triste e melancólica beleza. Foi isso que senti hoje, ao ficar frente a frente àquela tela de Cezanne; olhos marejados de lágrimas, olhar perdido no horizonte da pintura, no infinito do representado. Vertigem, sonho. Um momento fora do tempo, fora do espaço, perdido...Perdido no horizonte sonhado.

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