domingo, 28 de fevereiro de 2010

1.


Domingo. Acordara ainda cansado mesmo depois de uma noite de quase 9 horas de sono; sono leve e perturbadiço é verdade, mas ainda sim de sono. Sábado havia sido um daqueles dias pesados, um daqueles díficeis dias de trabalho. O corpo doído havia sem dúvida pago o preço maior. Rolara na cama de manhã ainda por certo tempo, mas a certa altura a fome já era mais forte do que fora o cansaço que ainda persistia. Mas era domingo, e o dia todo pertenceria a absolutamente nada; nada a fazer, nada a pensar; nada. Mais tarde, depois do almoço, dormiria ainda mais uma vez, e mais uma vez um sono um tanto quanto perturbado - como sempre é o sono fora de hora, repleto de pesadelos de semi-inconsciência e de inconstância entre realidades. Quando despertou de vez sentiu no ar a carga do prenúncio da chuva, o ar quente que havia de chofre se tornado fresco, passageiro. Não tardou a ouvir os primeiros sinais de trovões. Já com um livro nas mãos, mergulhado em Raymond Chandler, ouvira com imenso prazer o cair vagoroso das primeiras gotas de chuva contra o piso da calçada, contra o asfalto, contra as folhas e a grama do jardim. Só o destino enviaria um dia assim; o vento soprava delicado embora constante, soprava vibrante, trazia quietude à alma inquieta que agora enfim encontrava aos poucos repouso. Respirava fundo. Era o dia que havia pedido a Deus. E era ainda meio de tarde, com noite inteira ainda por vir, noite fresca finalmente, noite de chuva silenciosa e pensamentos indistintos e indiferentes - noite de nada, noite de nada pela frente.

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