terça-feira, 28 de setembro de 2010

culpado






foi coisa de pouco
mais de um segundo de atraso
e ele já havia apanhado
pelo pescoço na boca o pássaro

que gritou desesperado
enquanto agarrei o cusco pelo cangote
e o atirei de lado.

um segundo de atraso.

o pássaro ainda gritava em minhas mãos,
batendo as asas em plena angústia
enquanto plumas desfiavam no ar.

um segundo de atraso.

quando coloquei-o com os pés no chão
nem fez força
e desabou por completo
com os olhos ja semi-cerrados
de uma resolução que eu nunca havia visto.

um só segundo de atraso

e fui passando a mão pelo seu corpo,
acariciando as penas
enquanto os dedos buscavam a chaga.

um segundo de atraso

e um pescoço destroncado.
sabia que não iria viver.
já nem se movia mais,
já nem mais respirava.
morto de olhos abertos, de bico aberto,
morto, morte...

um segundo de atraso
e uma vida que não salvei.

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