segunda-feira, 18 de outubro de 2010

literatura e a mentira de cada um





Ler ficção é perda de tempo, me dizem. Página após página tentando em vão escapar
da realidade. Iludido, isolado em uma ilha de fantasia e imaginação onde tudo é mentira e tudo
foi inventado. Só mesmo eu para discordar. Qual a diferença então entre romance e filosofia? Um é mentira e outro é verdade? Não consigo acreditar. Já estive imerso em política, em teorias econômico-sociais, em filosofia e história e nunca, jamais encontrei mais preciso retrato da vida do que na dita ficção. Tudo isso, claro, baseado em minhas próprias experiências e sentimentos,
na minha própria visão de vida adquirida por caminhos e trajetos intelectuais pessoais. Mas aí, então, talvez toda a minha vida seja uma mentira. O fato é que nunca encontrei tanta verdade fora da experiência direta como encontro em romances e poesia. A diferença é que essas verdades não são apresentadas de forma direta, necessariamente racional, ciêntífica ou objetiva. Tudo rasteja disfarçado, sensível e delicadamente apresentado em personagens, trama, cenários,
diálogos, pensamentos, imagens e quadros abstratos contruídos de forma precisamente poética sob o domínio de poucos que de fato foram mestres na arte de escrever. Então não há mentira na história ou na ciência, porque? Qualquer obra representando tais "campos do conhecimento"
não foram então escritas por alguém? Com mente, pensamentos e ideias individuais reféns de experiências de mesma natureza? Porque diabos o que Debourd ou Darwin escreveu é mais verdadeiro do que Kafka ou Dostoyevsky? Ah sim, claro, pois o últimos se tratam de ficção. Puta que pariu, e o teimoso sou eu. Nesse estágio da minha vida a verdade é que eu nao acredito em verdade que não seja mutável, passageira. A verdade de hoje quase nunca resiste a chuva, e muitas vezes amanhece outra no dia seguinte, como outras coisas no dia seguinte a um trago forte. Impressões se perdem, certezas desfalecem e novas perspectivas se erguem. Mas isso tudo é construído por cada um, de forma única através de distintos caminhos. O meu é que sou viciado, aficcionadamente apaixonado por literatura, ficção, romance e poesia. Em 10 anos talvez eu queime todos os meus livros e mije em cima de qualquer poema que cruze o meu caminho. Duvido muito mas, de novo, quem de nós sabe? Quem de nós é dono da verdade? Além disso, isso se trata de um futuro, de um amanha qualquer e, se tiver que acontecer, então que assim seja. Mas hoje eu quero ler um romance e escrever poesia, essa é a minha verdade, que encontrei atraves das minhas experiências, então que assim seja. Olho para trás e desminto muita coisa que achei ter certeza, e daí? Não me arrependo de nada, tudo, absolutamente tudo me ensinou alguma coisa. Esse ensaio não é uma defesa, é desabafo. Se ficção é só uma "historiazinha", te desafio a ler Faulkner, Dostoyevsky, Kafka e não ser perturbado no mais profundo confim da alma -
é medo, é medo do reflexo que aparece no espelho, do quadro que de tão vívido se torna desesperador, se perde o chão, o fio, o tacto, o concreto. Desabafo, me sinto até cansado -
que venha o amanhã
e me desminta de novo.

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