quinta-feira, 21 de março de 2013

flores não crescem aqui


ele fica no sinal da esquina segurando um pedaço de papelão que diz
"colabore por favor $".
ela tem 13 e já trabalha desde os 5.
uma vez ele dormiu de boca aberta, uma mosca veio, pôs ovos,
nasceram larvas.
ele vivia tão bêbado de cachaça que demorou mais de 1 mês pra notar.
ela junta latinhas vazias de refrigerante
e cerveja nas praças da cidade
e vê os filhos dos ricos passeando de bicicleta e comendo algodão-doce.
não sou como os outros,
meu coração tem 1000 anos de idade 
e esse pedaço de mim também não se encaixa em lugar nenhum. 
flores não crescem aqui.
ele enche tanques de gasolina
e quando acaba o turno vai a pé pra casa, sem dinheiro pro ônibus.
quando dorme na rua, no inverno,
ela se cobre com jornal.
ele tem 40 anos e diz que nada deu certo, que já tentou de tudo
menos se matar.
mas na TV e nos prédios bonitos as pessoas falam de economia e tomam
vinho de barriga cheia.
falam sobre mercado e desenvolvimento, pib, dinheiro invisível 
e artigos daquele mesmo jornal.
falam sobre a importância de gerar lucro e riqueza pra, depois sim, dividir. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário