segunda-feira, 4 de março de 2013

mel e girassóis


às vezes, a única companhia que se tem
é o barulho do ventilador 
e esse café com leite, cinza e turvo,
pardo como a areia da praia depois da chuva. 
mas poesia de café tem porquê? 
a vida é um pouco que nem café: semente vira raiz, ramagem,
flor, fruto, grão, o grão vira pó e o pó
vira hábito, hálito, poemas. 
mas poesia de café tem porquê? 
uma palavra só ganha vida quando a gente enche ela de tristeza, 
alegria, tédio e estupidez. 
dali em diante, ela leva isso guardado no espaço ínfimo
entre cada letra, eternamente
ou até que uma daquelas coisas que apaga tudo que veio antes
ocorra, e mude tudo para sempre. 
ao contrário do que se pensa, 
palavra nenhuma nasce nome ou dona de nada. 
mas poesia de café tem porquê? 
purê de abóbora, salmão e salada. 
trinco de porta, molho de chaves, dengue. 
ausência, perdão e açúcar. 
livros de bolso e saudade e porque não café.

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