sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A Carta de Augustin Meaulness(tradução de trecho de Alain Fournier)





Ainda passo por aquela janela. Ainda aguardo,
sem a menor esperança, por pura e simples loucura. Ao fim dos domingos frios
do outono, quando a noite vem caindo, não consigo
suportar retornar à casa e cerrar as cortinas das janelas sem antes voltar
lá, naquela rua gelada.

Sou como a velha louca de Sainte-Agathe que saía a frente de casa
o tempo todo, o olhar focado em direção à estação para ver se o filho
morto voltaria um dia para casa. Sentado no banco, tremendo, miserável, gosto
de imaginar que alguém irá gentilmente me apanhar o braço...

Olharei em volta e ela estará alí. "Estou um pouco atrasada," ela dirá,
simplesmente. E tanto o sofrimento quanto a loucura hão de desaparecer.
Iremos juntos pra casa. Seu casaco frio, gelado, seu véu úmido.
Ela trazendo consigo o gosto da névoa do lado de fora e, se aproximando
do fogo, vagarosamente para que eu possa enfim perceber
seus frios cabelos dourados e seu lindo perfil de doces traços
inclinando-se suavemente, pra sempre sobre as chamas...

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