quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Recordações do Escrivão






"Tenho muita saudade", disse, pensando em voltar.
Sentir saudade. Movido por quase qualquer cancão.
Sentir a falta de. O peso da escrita antes de morrer.

Também, de certo modo, ter falhado. Seu destino ao alcool atribulado,
ao hospital psiquiátrico, às crises de depressão.
Na ficha médica lia-se neurastenia, não sonhador.

Tudo pelos pobres e arruinados, os que sentiam como ele
algo como ter perdido a chance. O desencontro entre
arte e mercado, a recusa de versos mecânicos por notas
ou um lugar sentado na Academia.

O triste fim
de Policarpo Quaresma e outros tantos, tão cedo,
tão desacreditados. Sentir saudade. Sentir a falta de.

A expressão do abismo existente na vida real. Imenso.
Em que aquele refém dos princípios do ideal, tenso,
testemunha qualidades se tornarem defeitos.

Lima Barreto, ontem ouvi teu nome no rádio depois de muito tempo.
Senti saudade. Senti saudade de gente que não se conforme.
Gente capaz de arte de verdade, sem dinheiro, luzes ou aplausos,
mesmo á beira da mais desesperadora loucura.

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