quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Oficinas e Laboratórios
para John Ashbery





Esse poema se preocupa pouco se é prosaico.
Veja como se estende, rasteiro. Você desvia o olhar pra
Tevê. Ele escapa, você se espanta. Você pousa a mão
No friso da porta, espera o táxi. Ele deita a mão no seu ombro,
Os olhares descruzam, desencontram, a chuva não para.

Esse poema é triste pois não lhe pertence. Deseja
O incerto, ávido por entendimento sem tese. Anti
Poético, você toca a grama que cobre, mas ele se arranja
Embaixo da pele, noutra camada. Você não percebe, ele 
Não desvenda. Nada se revela (nunca). Brincadeira?

Um sonho em que a perna é cobra que toco, e lanço—
A minha com força contra a madeira da cama. Esse poema
É prosa, e daí? Ele descansa vulgar, você se sente comum
Em um tempo ordinário? Esse poema pouco se importa
Se acaso, se cada passo desenha uma distância irreparável.

Esse poema lamenta longe de tudo. Você também, ele sabe,
Eu sei. Faz diferença? Fui enganado de novo. Ele também,
Você sabe—existe um abismo na superfície. Você
Baixa os olhos, pousa a mão sobre o tampo da mesa, silencia,
Acende um cigarro. Paradoxos e oximoros: esse poema fala—
Muito melhor quando se cala.





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