sábado, 6 de novembro de 2010

modernidade





o velho senta no banco de pedra
seu rosto entre as mãos.
em frente
um fluxo contínuo de gente
passa rumo ao teatro.

o velho soluça entre os dedos
em tom amargo de gin.
de quando em quando ergue a cabeça
e grita de forma animalesca:

"não posso, não vê que não posso?"

sua voz não é humana
e soa como o partir de uma tábua ao meio.

passos se agitam.
pessoas de meia idade olham para o outro lado.
vozes murmuram no escuro:

"vagabundo."
"bebida devia ser proibida para esse tipo de gente..."

o velho resgata de entre as mãos o rosto molhado de lágrimas
fitando nada através de olhos vermelhos injetados de sangue.

pessoas recuam,
pisam umas sobre os pés das outras.

como o partir de uma tábua ao meio
surge a voz que vem de dentro do velho -

"não vê que não posso...? não posso...
não posso..."

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