terça-feira, 16 de novembro de 2010

naquele porto


debruçado sobre o livro
à luz de uma única lâmpada acesa
ao som da chuva que cai no teto
sem lembranças ou memórias
do tempo em que viveu nas nuvens.

sem consciência, sem vontade
que não a de ser chuva, de cair,
seguir a lei da gravidade,
sem vontade de lembrar no peito
o que a cabeça esqueceu —

uma vida inteira apagada,
um vazio escuro de quarto
à luz de uma única lâmpada gasta,
um passado distante repetido,
mal colocado no tempo,
um passado ultrapassado.

já não reconhece aquele rosto
tão próximo, tão parecido,
agora tão longe.

a chuva cai sem dor,
sem anseio e sem lamento,
cai sem dor, cai sem pensamento;
a chuva cai no teto ainda, insiste,
mas sei que lá —

naquela velha casa de madeira
alguém que amo sofre
por alguém que já não lembra.

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