segunda-feira, 23 de abril de 2012

Malone dies





um falava enquanto o outro ouvia,
o que falava pensando, enquanto
o que ouvia lembrava; nenhum dos
dois prestava atenção. a culpa era
da lua alta, da toalha quadriculada
sobre a mesa, da luz do poste da rua
refletida no copo. em volta as vozes
rogavam exageradas, prometendo
promessas descumpridas, discorrendo
sobre coisas que não sabiam. quem ouvia
fingia que cria, pretendendo que escutava.
era culpa dos goles, da calçada, do
barulho dos talheres. a culpa era de tudo
que havia mudado, dizia, e do tempo 
que havia perdido. mas nem seus olhos
mais acreditavam, desmentindo-o ainda
enquanto falava. quem ouvia esperava
mas jamais contradizia, teria 
cabimento? pois era culpa do aumento
dos preços, da falta de transparência
do governo, dizia, enquanto o outro
sonhava que ia
na direção que o vento soprava.


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