terça-feira, 5 de junho de 2012




do inglês, trecho de ' Norwegian Wood '




A morte existe, não como oposto, mas sim como parte da vida.

     É um clichê traduzido em palavras, mas naquele tempo eu o senti não através de palavras, mas sim de um nó feito de ar que se encontrava dentro de mim. A morte existe — em um pesa-papéis, em quatro bolas brancas e vermelhas sobre a mesa de sinuca — e seguimos vivendo e a inspirando para dentro de nossos pulmões como fino pó.
     Até aquele momento, eu havia compreendido a morte como algo inteiramente separado e independente da vida. A mão da vida está comprometida a nos agarrar, eu havia pensado, mas até que chegue o dia em que ela tentará nos alcançar, ela nos deixa em paz. Essa ideia parecia a mais simples, mais lógica verdade. A vida está aqui, a morte está lá. Eu estou aqui, não lá.
     Na noite em que Kizuki morreu, entretanto, eu perdi a capacidade de ver a morte (e a vida) em termos tão simples. A morte já não era o oposto da vida. A morte já estava aqui, no interior do meu ser, ela esteve sempre aqui, e batalha alguma me faria esquecer disso. Quando Kizuki, então com 17 anos de idade, foi levado embora naquela noite de Maio, a morte havia me levado também.








- Haruki Murakami

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