segunda-feira, 11 de junho de 2012

Estranheza





eu mesmo não acredito que estou aqui.

é impressionante o quanto o sonho e a realidade têm em comum:
às vezes a gente sonha uma coisa absurda, num lugar absurdo,
cercado por gente absurda, fazendo a mais absurda das coisas
da forma mais absurda possível; mas a gente aceita, e fala para si mesmo
que foi apenas um sonho, e que sonhos são isso, absurdos.

mas na realidade a gente pode às vezes se encontrar na alemanha
e três ou quatro dias depois, passados quase sem perceber, podemos pairar no ar,
sobrevoando cuiabá, pousando no interior do mato grosso, revendo o pai.

alguns dias depois um primo se casa, o tempo passa, e o avião sobrevoa
o oceano atlântico, de volta, e pousa na pista do aeroporto de frankfurt.

a gente come uma salada murcha no balcão do aeroporto e procura um café forte
para tentar dar algum sentido às coisas; não têm.

a gente embarca em outro avião e segue, as horas passando, a gente se perguntando
entre empurrões no corredor se tudo é ou não um sonho; a gente sabe que dalí uns meses estará em casa,
ou em lugares que nunca imaginamos estar, revendo pessoas que imaginamos que nunca mais veríamos,
falando de coisas que a gente pensou que nunca mais falaria.

enquanto os dias não chegam a gente pensa que nunca chegarão,
quando eles vêm a gente quase não percebe que chegaram
e quando se vão a gente mal pode acreditar que já passaram,
que podem mesmo ter existido, sido reais.

a gente se encontra em mesas de bares e diz um para o outro que não crê,
que não crê que possa ser; mas acredite, que como um sonho que se aceita,
é preciso também que se admita, na vida, mesmo aquilo que não se acredita.

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