quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O Sono, A Morte de Vidal, O Mestre do Silêncio.







pra leitura não basta disciplina
é preciso obsessão.
o hábito preenche um espaço
interminável
sem nunca tocar as paredes.
pro hábito não basta rotina
é preciso transtorno
sem jamais se entregar à mesmice.

o braço busca o corpo calmo, o lábio 
sussura 'acorda' na orelha, o rosto 
vira de olhos fechados e apenas responde
que amanhã não tem aula,
nem lembra

que faz muito tempo que não tem aula.

escrever é fazer escolhas o tempo todo,
disse Fonseca, que leu em Flaubert, que deve
ter ouvido em algum outro lugar. Não me recordo
do que disse Bábel
                [algo sobre o direito de escrever mal?

mas reflito
se seria pior morrer de tifo
ou fuzilado.

pior mesmo seria ter o último manuscrito 
destruído, a obra prima máxima aniquilada.

Flaubert também disse
                                     [ou foi Valery?

que um romance não termina,
assim como um poema
nunca acaba. O escritor em algum ponto
precisa aceitar que deve abandoná-lo.

isso também é fazer escolha.

Vidal disse que era uma crosta de gelo que, caso fosse
quebrada, revelaria apenas água fria. 
o Jornal Nacional disse hoje à noite
que ele morreu ontem de pneumonia.

quanto tempo eu durmi? tua voz questiona,
agora é uma hora da manhã, respondo.
mentira, tua voz retruca, enquanto
os dedos esfregam os olhos.
desculpa, tua voz exclama.
não importa, replico.
me dá aqui um beijo.

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