terça-feira, 10 de julho de 2012

E em todas as outras Tardes






Eu sento em frente ao monitor
na cadeira de couro do meu avô
enquanto o Tempo Passa
no corpo do vento, nos ares
que rastejam entre tábuas,
dobradiças e fechaduras.

Olho pela janela e não vejo o Farol.

Vejo um espaço limpo
de prédio desmoronado.

Ouço disparos de trovões
e avisto raios, relâmpagos alvoroçados
entre cabos elétricos. Chuva despenca
numa vazante sem fim.

Penso em J.D. Salinger isolado
batendo teclas de uma velha máquina
manual de escrever. Vejo o trânsito
e me pergunto
se não é esse o real abandono.

Me sinto um analista de letras,
um psicanalista de formas, engenheiro
abstrato da molduras das palavras. Sério,
sento em frente ao monitor e bato
teclas curtas e macias
que fariam Salinger chorar desesperado
de vergonha da preguiça contemporânea.

A chuva deixa o céu quase como um pano
branco estendido sobre os telhados
e eu busco abrigo em uma alcova de livros
de nomes estrangeiros.

Kerouac, Salinger, Lawrence—
em um dia assim, Eliot,
a gente aqui faz o que pode.


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