segunda-feira, 16 de julho de 2012

Poema sem Face






quando eu nasci
um anjo torto,
desses assim sem rosto,
me perguntou no escuro:

e então, garoto sisudo,
já se deu conta
que o seu avô morreu?

vi no caixão, respondi,
pálido, imóvel,
e daí? 

esse anjo torto,
que cheirava a mofo,
retrucou no escuro:

pois é garoto soturno,
pois que os homens todos
hão de um dia morrer
e você também.

chorei a noite toda
perguntando porquê.

quando eu morrer,
esse mesmo anjo torto
surgirá no escuro, 
então com rosto, a mescla
de todos aqueles que amei,
dizendo:

garoto tolo, tantos anos
passou preucupado
quando o que lhe disse
era pra fazer esquecer
e não afligir.

varou noites em claro
ecoando vozes de morte
no silêncio de um quarto.

garoto tonto,
agora cessa, repousa a testa
franzida,
solta o vento preso no peito.

agora cerra os olhos
e descansa meu filho
no olvido escuro do leito.

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