quinta-feira, 22 de março de 2012




O Povo sem Rosa
(Guernica)




Era assim que lhe chegava,
por entre as estantes da sala
da biblioteca, cercado
(que criação é inferno)
por livros abertos ou dicionários,
trocando a roupa de cama no sábado ou sentado
depois de uma noite bêbado no vaso do banheiro;
o desfecho, o rosto,
o verso -- chegava assim às vezes
em repetidos copos de café barato
em pensões durante meses em cidades
que só falavam outra língua, sem trégua,
ou respondendo anúncios de emprego
de entregador de água -- chegava
como a tinta chega na pena,
permanecendo parada, o inevitável destino da ponta,
noites em que quisera tirar a própria vida
sabendo sempre que jamais teria peito
quando chegava assim no leito, irreversível,
a morte, a moça,
o poema, a lembrança.

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